O Batistério, o Duomo de Florença e o início do Renascimento

O grande movimento do Renascimento, que durante séculos transformaria a arte, a política, a ciência, a arquitetura e a filosofia da Europa, começou na Florença do final século XIV. Alguns autores chegam a datar o início do Renascimento em 1401, com o concurso pelas portas do Batistério entre Ghiberti e Brunelleschi, embora outros prefiram não dar uma data tão exata. Mas a questão é que ela começou lá, e sob o mecenato da família Medici. Afinal, como dizia Orson Welles:

orson welles o terceiro homem

“Na Itália, eles tiveram trinta anos de guerra, terror, assassnato e banhos de sangue sob os Bórgia, e produziram Michelangelo, Da Vinci e o Renascimento. Na Suiça, eles tiveram amor fraternal e quatrocentos anos de democracia e paz – e o que eles inventaram? O relógio cuco”.

O Batistério

O Batistério é um dos prédios mais antigos da cidade, construído no século XI em estilo romanesco. Ele é chamado de de São João em honra ao patrono da cidade. Ele tem estrutural octagonal, como é muito comum na Itália em referência aos sete dias de criação do mundo, e mais um oitavo, em que os cristãos renascerão, segundo a sua mitologia.

O batistério é famoso pelas portas de bronze com esculturas em baixo relevo. O artista que ia fazer cada uma das portas era decidido por concurso público. Cada artista que quisesse participar mostrava o seu projeto, geralmente com miniaturas, e o melhor era decidido por votação.

duomo e batistério de noite
O Batistério com a Catedral atrás

As portas de norte foram feitas para comemorar que a cidade tinha sido poupada da peste negra, e o tema decidido foi o Sacrifício de Isaac. Não conseguiram decidir entre os dois finalistas, Ghiberti e Brunelleschi, e foi decidido que eles deveriam trabalhar juntos. Mas o orgulho do Brunelleschi entrou no caminho e ele foi para Roma estudar arquitetura. Muitas pessoas preferem o estilo dele, e falam que seu design era mais moderno. Você pode ver os dois designs originais no Museo dell’Opera del Duomo, e compará-los.

Ghiberti foi considerado por muitos o maior artista de seu tempo, e depois foi comissionado para fazer outro par de portas, chamadas por Michelangelo de “As portas do paraíso”. Nelas, ele usa perspectiva de uma forma nova.

Da primeira vez que fui lá, eu estava fazendo um curso de italiano em Florença, e meu professor de história da arte levou a turma lá. Nós nos deitamos nos bancos, aproveitando que não tinha quase ninguém lá dentro, e ele explicou as pinturas do teto, uma por uma. Ele achava que uma delas, feita por Giotto, mostrava o renascimento que começava: no Cristo crucificado, um dos pés está na frente do outro, dando uma ilusão de profundidade. 

Os mosaicos mostram, de cima para baixo: histórias do velho testamento, no primeiro nível, histórias de José, no segundo nível, histórias de Maria e Cristo, no terceiro nível, e histórias de São João Batista, no quarto nível. A figura enorme de Jesus representa o Julgamento Final.

Teto batistério florença giotto

O Duomo

Vista do Duomo

No século XIII, foi decidido que Florença teria uma nova catedral, com o maior domo já construído. Um pequeno problema: ninguém tinha idéia de como construi-lo.

Em 1418, quando o domo era tudo o que faltava na igreja, um concurso público foi feito e diferentes arquitetos apresentaram seus projetos. As apresentações duraram um longo tempo, e vários dos arquitetos construíram miniaturas que eram grandes o bastante para que os visitantes pudessem entrar nelas. Brunelleschi foi o vencedor dessa vez, com um domo em duas camadas: uma exterior, com um metro de espessura, e uma interior, quatro vezes mais grossa. Uma das inspirações foi o Pantheon, que ele tinha estudado em Roma.

Brunelleschi teve que usar camadas de tijolos, mais leves do que pedra, para garantir que o domo não ia desabar pelo próprio peso. As ferramentas necessárias para fazer essa obra gigantesca ainda não existiam, então ele teve que inventá-las. Essas máquinas fascinaram Leonardo da Vinci anos depois, quando ele era um aprendiz, e ele fez diversos desenhos delas.

As melhores vistas do Duomo são do Campanile di Giotto e do Piazzale Michelangelo. Se você decidir subir ao topo do Duomo, vai passar entre as duas camadas. Ver Florença do alto talve seja a maior de todas as obras do Renascimento.

Para visitar, eles vendem o ingresso combinado para a Cúpula de Brunelleschi, o Campanile di Giotto (a torre do sino), o Batistério e o Museo dell’Opera del Duomo, com as esculturas originais, por 15 euros. A Catedral pode ser visitada de graça, mas o número de pessoas é controlado para não perturbar quem está lá para rezar.

Clique aqui para ler todos os posts sobre a Itália.

8 comentários

  1. Clara Souza

    Julia, te descobri nos mochileiro, com apostagem sobre seu primeiro curso em Firenze, vc teve aesma experiência que eu e foi uma delícia ver sua narrativa e as sensações muito próximas das minhas. Nas cidades não fui a Roma, fiquei doente, e fui a Cinqueterre, Assis, Veneza, Volterra. Mas fora assim, seu olhar me fez viajar junto, quase 20 anos depois. Bjos

    1. Julia Boechat

      Oi, Clara, tudo bom? Fiquei muito feliz em ler o seu comentário, obrigada! É o que eu mais espero com esse blog, que os leitores se sintam levados junto. Ainda não fui a Assis e Volterra, talvez na próxima vez na Toscana? Mas ainda vão sair mais sobre a Itália, lá nunca esgota, haha.
      Beijos

Deixe uma resposta