Os dervixes rodopiantes e a dança como comunhão com Allah

Eu estava interessada nos dervixes turcos desde que li sobre eles em alguns blogs, principalmente o relato da Camila Navarro no Viaggiando.

Os dervixes rodopiantes são parte do sufismo, uma vertente mística do islam. Eles tem diversas correntes, mas todos acreditam na possibilidade do contato direto com deus. Essa comunhão pode ocorrer pela música ou pela dança, por exemplo, com o objetivo de atingir o êxtase religioso.

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Créditos: wikipedia commons

Em alguns lugares, a cerimônia da Sema virou uma atração tão grande que é feita por atores e dançarinos, não por dervixes. Você pode até encontrar “noites turcas” que tem dez minutos da dança espremidos entre danças de casamentos e dança do ventre.

A cerimônia tradicional dura horas, mas existem lugares que fazem amostras de cerca e uma hora com dervixes e respeito com a sua religião.

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Crédito: wikipedia commons

Eu escolhi ver a cerimônia no Hodjapasha, uma antiga casa de banhos convertida em centro de cerimônias. Eles pedem que você chegue uma hora antes da cerimônia, e te servem café e chá enquanto você pode andar pela sala e ler sobre o sufismo e os dervixes.

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Antes do espetáculo começar, eles nos avisaram que, por ser uma cerimônia religiosa, fotografia era proibida e aplausos não eram apreciados. Durante a cerimônia, imagens eram projetadas nas paredes, desde planetas e florestas a explicações sobre as diferentes partes do rito e o que estava acontecendo, o que foi ótimo.

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Crédito: site do Hodjapasha

A cerimônia representa a ascensão do homem à perfeição por meio do amor. Ela começa com música, mas só instrumentos que não são considerados profanos podem ser utilizados. Hinos são cantados e poesias frequentemente são declamadas. O Corão nunca é utilizado, porque eles acreditam que os instrumentos seriam uma forma de ornamentá-lo, e ele deve permanecer sagrado.

Os dervixes chegam depois. Eles usam um chapéu de camelo, que representa o túmulo, e uma saia branca, que representa uma mortalha. No início, eles também usam um manto negro, e ao retirá-lo, estão representando um renascimento espiritual para a verdade. No início, eles tem os braços cruzados, simbolizando a unidade de deus.

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Créditos: wikipedia commons

Depois eles andam em circulos e se cumprimentam. Quando eles rodopiam, eles tem os braços abertos. A mão direita aponta para o alto, para receber a benevolência de deus, enquanto a mão esquerda se volta para a terra.

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Créditos: site do Hodjapasha

A cerimônia no Hodjapasha durou cerca de uma hora. Eu achei bom que era proibido fotografar, assim não tive a experiência de turistas sem noção, como aconteceu com a Camila Navarro. Um casal foi embora no meio, o que me fez pensar sobre a nossa sociedade do espetáculo em que as pessoas não podem se sentar por uma hora sem usar o smartphone sem se entediar. Também fiquei pensando sobre como é complicado ver uma cerimônia religiosa como turista, sentindo quase como se eu fosse uma intrusa lá. Algumas pessoas falam que o turismo foi muito positivo para os dervixes, porque eles sofriam muita perseguição do governo e isso melhorou com o interesse internacional. Mesmo assim eu queria poder conversar com eles, perguntar se a nossa curiosidade é bem vinda, ou ofensiva, ou outra coisa.

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Créditos: wikipedia commons

Eu achei a cerimônia muito bonita, e iria a outra feliz se voltar à Turquia. Também fiquei muito satisfeita com o Hodjapasha. Eles tem a cerimônia durante o inverno às terças, quintas e sábados, sempre as 19 horas. Nas outras estações, ela acontece quase todos os dias. Outros lugares dos quais ouvi falar bem foram o Galata Mevlevi Museum, que também tem um pequeno museu sobre a ordem e tem a cerimônia todo domingo às 17 horas, e a Estação de Trem Sirkeci, que tem a cerimônia todos os dias às 19:30.

O Museu Galata e outra foto com crédito da wikipedia commons

Clique na imagem para ler mais sobre a Turquia:

5 comentários

  1. Luís

    To querendo ir na cerimônia na minha viagem para Istambul e adorei seu relato. Gostei muito de como você explica cada trecho da cerimônia, tenho certeza que vai enriquecer minha viagem.
    Abraços

    1. Julia Boechat

      Oi, Luís, tudo bom. Gostei muito de ver as explicações antes e durante a cerimônia. Que bom que você curtiu também, acho que vai enriquecer a experiência. Vai mesmo, você vai amar.

  2. Amanda

    Gostei muito do relato e mais ainda da sua reflexão. Também penso nessas coisas quando viajo

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