Providências para tomar antes de estudar na Itália

Quando eu estava me preparando para o intercâmbio, sentia que cada vez que eu resolvia algo apareciam mais três problemas para resolver. Tinha tanto formulário para preencher e documento para entregar que eu só queria ter uma lista antes para não ficar sempre com a sensação de que estava terminando e aí descobrir que não era bem assim. Então coloquei aqui todas as principais providências que tomei antes de vir fazer intercâmbio na Itália, e espero que ajude quem estiver passando pela mesma situação. A lista é baseada na minha experiências e em algumas conversas com outras intercambistas.

 

Seguro-saúde:

Aqui no blog tem um post em que comparamos os prós e contras de três formas de Seguro Saúde para estudantes na Itália: o IB2, que é o gratuito para brasileiros, por um acordo entre os dois países, o do SSN, o Seguro Saúde italiano, e os particulares. Mas aqui vou fazer um resumo também.

O Brasil tem um acordo bilateral que nos dá direito à assistência pública italiana, chamado de seguro IB-2 ou CDAM. Qualquer brasileiro pode ter isso, não importa se for para fins de estudo, trabalho ou turismo. O único requisito é ser contribuinte da previdência (se você não for, pode fazer a contribuição mínima). Se você já tem carteira de trabalho, vai precisar do número do PIS. Se não tem, pode tirar seu PIS online (aqui, clicar em “inscrição” e “não-filiado”). Antes você tinha que ir depois ao Ministério da Saúde da sua cidade, mas agora o processo todo está disponível online, nesse site. Aliás, o processo ficou tão simples, que recomendaria para todo mundo: mesmo se você tem passaporte italiano, é bom fazer, porque você deve morar na Itália por um tempo antes de ter direito ao sistema de saúde de lá.

Quando você chegar na Itália com o IB2, vai precisar ir a Azienda Sanitaria Locale e se cadastrar para poder ter acesso à assistência médica. Não precisa pagar nada extra, e tome cuidado com isso porque os atendentes às vezes não sabem os detalhes dos acordos com cada país.

Também tem a opção de fazer um seguro direto na Itália, para estudantes estrangeiros, pagando 150 euros por ano, a inscrição no SSN. Esse seguro tem a vantagem de ser mais reconhecido, e ele é feito para o ano solar – ou seja, de janeiro a dezembro.

Lembrando que ambos são válidos dentro da Itália e é preciso fazer outro para viajar para fora do país, mesmo dentro da UE. E ele é só um seguro saúde, não funciona como seguro viagem, ou seja, você não está protegido em casos como de perder uma conexão, overbooking, vôo cancelado, extravio de bagagem, etc. Por esse motivo fiz um seguro particular para os primeiros meses. É claro que fazer um seguro particular para todo o período também é uma opção e uma escolha sua.

 

Declaração de Valor e Pre-Inscrição:

Essas são burocracias que você tem que seguir se está lá para fazer graduação ou mestrado (não é necessário para intercâmbio). Eu recomendo fazê-los o mais cedo possível, já que eles têm um prazo até quando podem ser feitos para você poder se matricular naquele ano, e você pode ter uma surpresa que atrase o processo (as minhas: eles não aceitavam a tradução juramentada para o inglês que a universidade disse que eles aceitariam e tive que fazer para o italiano com taxa de urgência de 50%, eles não aceitavam o certificado de conclusão da UFMG e o diploma não ficava pronto, no meio do processo eles mudaram o dia de atendimento do setor, como marcar o atendimento, os funcionários e os documentos pedidos). Os dois documentos são pagos, mas você tem uma isenção se tiver sido aprovado em uma universidade italiana. Eu costumo ser a favor de toda economia, mas vou repetir que nem sempre vale a pena esperar porque o processo não é simples.

A Declaração de Valor diz que você tem os requisitos necessários para seguir os estudos na Itália, então me pediram o diploma e histórico de graduação, já que era para o mestrado, o formulário de requisição, no site, e uma declaração da universidade falando sobre o número de semestres oficial do curso. Tudo autenticado em cartório, apostilado, traduzido, com a tradução apostilada e com o original e cópias (por isso gastei uma fortuna para conseguir uma bolsa no exterior). Se você quer fazer graduação, pode ser necessário ter um ano de faculdade brasileira, já que o modelo de educação italiana exige doze anos de educação antes de ingressar na universidade. Peça todas as informações no seu consulado, já que elas podem não coincidir com a minha experiência.

Para a Pre-Inscrição, fique muito atenta ao prazo de cada consulado, e levei o formulário A em duas vias para cada universidade que você planeja tentar, o Formulário Dich. Identificazione, em uma via para cada universidade, 3 fotos 3×4 para cada universidade, passaporte com cópia simples, a Declaração de Valor pronta (mais um motivo para começar o processo cedo!) e um comprovante de endereço com cópia simples.

Visto:

Você deve começar a tentar o visto logo que receber a carta de aceite da universidade italiana. 

Minha experiência é com o consulado em Belo Horizonte, mas imagino que não seja muito diferente em outros. Tem dia que estavam atendendo sem hora marcada (quando chegar tem que pegar uma senha) tem dia que não estavam atendendo. Para fazer agendamento, você tem que fazer login nesse site.

O consulado de BH atende pedido de visto às terças, e o agendamento abre uma semana antes, à meia-noite, horário da Itália. Ou seja, abre às segundas à noite. Dependendo da época do ano, você pode fazer até no dia seguinte, dependendo ele esgota em minutos e o site trava sem parar. Chegando na Itália você tem que pagar em torno de 150 euros pelo Permesso di Soggiorno, a carteirinha de estrangeiro residente na Itália (mais informações no post sobre providências a tomar chegando na Itália).

Esses foram os documentos pedidos no consulado quando fiz o pedido em 2015, para o intercâmbio:

  • Carta de aceite da universidade de Bologna original. Mandei vários e-mails para o DRI da UFMG, já que tinha ouvido casos da carta chegar meses atrasada, mas no final deu tudo certo;
  • Declaração da UFMG que eu estava saindo de intercâmbio e tinha que voltar para concluir o curso;
  • Ficha para estadia longa preenchida e duas fotos 3x4;
  • Passaporte com validade de pelo menos três meses depois do fim do intercâmbio;
  • Declaração de patrocínio, assinada por quem tá financiando o intercâmbio, geralmente seus pais (levei extratos de poupança oficiais, que pedi na agência, cartas de idoneidade financeira preparadas no banco, cópia da escritura do apartamento, imposto de renda, tudo que consegui. A assinatura deve ser ou reconhecida em cartório, ou feita na frente do funcionário do Consulado). O mesmo documento vale como declaração de hospitalidade, caso você vá ficar na casa e alguém lá;
  • Seguro saúde (fiz o do INSS, grátis para contribuintes, do qual falei acima);
  • Passagem de avião;
  • Acomodação: pode ser um contrato de aluguel, um lugar reservado para o primeiro mês, ou mesmo uma carta da universidade se responsabilizando por  me ajudar a encontrar alojamento para fins de visto. Você tem que pedir por email declarando seus dados e enviando uma cópia da carta de aceite. Mais detallhes nesse link em inglês ou em italiano nesse);
  • Comprovante de residência, com cópia;
  • O visto para estudantes era gratuito nessa época.

Em 2018, quando fiz o pedido para o mestrado, pediram:

  • Carta de aceite da universidade de Bologna. Dessa vez, a assinatura eletrônica foi o bastante;
  • Comprovação de aceite do pre-registro universitário, do qual a universidade já tinha me prevenido;
  • Ficha para estadia longa preenchida e uma foto 3×4;
  • Passaporte com validade de pelo menos três meses depois do fim do intercâmbio;
  • Declaração de  garantia financeira, segundo formulário oficial do site (alguém que tá “patrocinando” o mestrado) assinada e reconhecida em cartório, com cópia autenticada do documento de quem assinou;
  • Comprovantes de condições financeiras (dessa vez o principal foi a bolsa de estudos, mas também a declaração de patrocínio assinada pelos meus pais, com extratos de poupança oficiais, que pedi na agência, cartas de idoneidade financeira preparadas no banco, cópia da escritura do apartamento, imposto de renda, tudo em que consegui pensar);
  • Seguro saúde (fiz o do INSS, gratuito para contribuintes, do qual falei acima, mas dessa vez apostilei em cartório por recomendação do Ministério da Saúde);
  • Passagem de avião;
  • Comprovante de hospedagem pelos primeiros quinze dias (fiz no booking);
  • Comprovante de residência no Brasil com cópia;
  • Visto anterior para o espaço Schengen (se for o caso);
  • O visto de estudante custou 50 euros, o que no dia foi 215 reais.

Importante dizer que tudo que precisar ser assinado deve ser assinado no consulado, em frente ao funcionário. No caso da garantia financeira, ela também pode ser autenticada em cartório.

Quando você receber o visto lembre-se de pedir para o atendente carimbar a carta de aceite da universidade e o seguro-saúde (não precisa dele se o seguro for o IB-2). Quando você chegar na Itália, vai ter que fazer o Permesso de Soggiorno e vai precisar desses documentos carimbados.

Você pode pedir o Codice Fiscale,cpf italiano, direto no consulado, mas pode demorar algumas semanas para ficar pronto, então é sempre bom perguntar antes. O formulário de requisição está aqui. Se não tiver tempo de fazer, é só ir a uma Agenzia delle entrate na Itália com seus documentos.

Procuração:

É sempre bom deixar uma procuração com alguém de confiança antes de viajar, mas preste atenção se você quiser usá-la para algo mais específico. Para comprar ou vender algo ou para criar ou desativar uma conta bancária frequentemente não se aceita uma procuração com amplos poderes. Então se for fazer algo específico, sempre bom checar antes com os responsáveis.

Remédios e precauções:

Se tem um remédio que você está acostumado a tomar, é melhor sair do Brasil já com ele. Na Itália alguns remédios, como anticoncepcional, não podem ser conseguidos sem receita.

Já o produto para lentes de contato, que me falaram que era difícil de comprar, acabou sendo fácil e custava o mesmo tanto.

É sempre bom ir ao Centro de Atenção à Saúde do Viajante da sua cidade para saber mais sobre o que está acontecendo na Itália. Agora, em 2018, há surtos de sarampo e rubéola, e eles me aconselharam a booster. Também cheque requisitos sobre as vacinas para COVID, ou mesmo a necessidade de comprovante de vacinação para Febre Amarela.

Fazer cópia dos documentos:

É sempre bom ter uma cópia dos documentos a mão. Eu fotografei os meus e deixo no Google Drive. Também é bom deixar cópias autenticadas em casa, caso alguém precise usar sua procuração.

Decidir como você vai levar o dinheiro:

Você pode levar o dinheiro todo em espécie, levar um vtm (visa travel money) para que alguém possa depositar dinheiro mensalmente (ou um vtm com o dinheiro todo), abrir uma conta no exterior para fazer remessas ou transferências internacionais, sacar do cartão de crédito ou débito, fazer transferências pela Western Union, fazer Wise… Cada um tem suas taxas e nenhum escapa de pagar imposto. Decidir qual é o melhor pode ser super complicado, já que um cobra porcentagem, outro cobra taxa fixa, outro cobra os dois mas só a partir de um valor. O que eu fiz foi colocar o dinheiro que ia receber por mês e simular cada um na ponta do lápis.

Para mim, o melhor foram as contas de bancos onlines na Europa, que você faz pelo app, sem muita burocracia. Tenho contas no Revolut, Wise e NR26, e recomendo todas as três.

Passagem Aérea:

Quando você vai viajar para estudar no exterior pode ter direito a passagem aérea de estudante. Ela pode ser comprada em agências de turismo ou diretamente com as companhias, e geralmente você precisa ter uma duração mínima de curso para poder comprá-la (quantas semanas varia de lugar para lugar). Algumas agências também oferecem outros benefícios, como poder remarcar a passagem uma vez de graça.

Também é sempre bom checar em outros sites, como o Melhores Destinos e os sites das companhias aéres.

Com a universidade no Brasil, em caso de intercâmbio:

A primeira providência que a UFMG pediu foi a confirmação de interesse em participar do intercâmbio, cerca de um mês depois da divulgação do resultado.

Depois, em janeiro, mandaram um email com algumas informações sobre os documentos que seriam necessários. Em março tive que entregar o comprovante de matrícula (em português e italiano, eu mesma traduzi), histórico escolar (idem), cópia do passaporte, declaração de condições financeiras e termo de compromisso. A universidade também enviou guias práticos preenchidos por estudantes que vieram antes e o nome das pessoas que vinham no nosso ano, o que foi ótimo para trocarmos informações e mesmo para combinar de olhar apartamento. No final de maio mandaram os documentos finais para levar para o DRI: o afastamento (que teoricamente impede que você seja jubilado por não fazer matrícula. Muito teoricamente, já que todo mundo no meu ano foi jubilado), o plano de atividades e o comprovante de contratação de seguro saúde.

Nós recebemos a carta de aceite original no final de junho. A Unibo também me contatou e fiz o login e senha no site, assim como meu email institucional.
Essas foram as principais providências que eu tomei antes do intercâmbio. Se alguém lembrar de mais algo, deixa nos comentários por favor.

Já está na Itália? Clique aqui para ler as providências para o intercambista chegando no país.

Clique na imagem para ler todos os posts sobre morar e estudar em Bologna.

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Ou aqui para ler todos os posts sobre a Itália.

11 comentários

  1. Mateus

    Olá, tudo bem? Adorei a postagem, parabéns! Fiquei com uma dúvida, a “declaração de garantia financeira” é uma declaração escrita pelo particionador ou existe um modelo para isto? Vale o mesmo modelo da “carta de patrocínio”? Obrigado!

    1. Julia Boechat

      Oi, Mateus, tudo bom? O modelo bilíngue tá no site dos consulados. O que eu peguei tinha esse nome, mas acho que é o mesmo documento sim!
      Espero que isso ajude.

    2. Bianca

      Oi Julia! To de mudança pra Itália pra fazer meu mestrado em Padua e nossa, teu blog tem me salvado demais HAHAHA Fiquei com uma dúvida quanto ao CDAM: vc sabe me dizer como fazer pra renovar ele já estando na Itália? Já solicitei o meu e ele é válido só até abril do ano que vem, e como meu mestrado é de dois eu teria que renovar la da Itália mesmo. Vc já fez isso? Um beijo e parabéns pelo trabalho 🙂

  2. Amanda

    Amei o seu blog! Acho que pouca gente sabe do acordo bilateral que dá direito à assistência pública italiana! Obrigada por dividir a sua experiência! Tenho certeza de que você está ajudando muita gente!

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