Volta ao Mundo em Filmes – Zâmbia: I Am Not a Witch

Eu escolhi o filme para a Zâmbia quando ouvi falar de I am not a witch, de Rungano Nyoni, que estava fazendo sucesso no circuito de festivais. A premissa parecia interessante, sobre uma menina acusada de bruxaria, então foi isso. A idéia parece antiga, mas outro dia mesmo li um artigo sobre mulheres acusadas de bruxaria sendo queimadas vivas em Papua Nova Guiné. Então me intrigou.

O filme começa dentro de um ônibus com turistas, que chega em um acampamento de bruxas. Os turistas ingleses tiram fotos das mulheres, enquanto fazem perguntas a um homem. Quando eles perguntam porque elas estão amarradas, ele responde que é para elas não voarem. Até onde elas podem voar? Para qualquer lugar, mesmo na luz do dia. E elas matam enquanto estão voando? É para isso mesmo que elas voam.

A cena corta e vemos uma criança sendo acusada de bruxaria por um quase nada. Ela é séria, ela dá uma sensação ruim nos outros, e por isso ela vira o bode expiatório de cada pequeno incidente da vila. A policial fica na dúvida se não deve levá-la para um orfanato, mas ela fica confusa pelo fato de que a menina não nega as acusações. O chefe dela na delegacia contrata um feiticeiro, que mata uma galinha e logo tem o diagnóstico: ela é uma bruxa.

A menina é levada para o acampamento de bruxas, amarrada com uma fita branca e ensinada que se ela tentar fugir, vai ser transformada em um bode e devorada. A menina logo  se apega às bruxas, que também tomam afeto por ela. Elas são levadas em fazendas para trabalhar, o tempo todo amarradas pela fita branca, mas as bruxas mais velhas não querem que ela trabalhe. Elas querem que ela tente ouvir o que se passa nas escolas lá perto e aprenda algo. Elas lhe dão um nome, Shula.

Enquanto isso, o administrador do campo, que é um funcionário do Ministério do Trabalho, vê uma chance de explorar a fama da menina-bruxa e começa a levá-la em julgamentos. Em um deles, ela liga para “as avós” para pedir um conselho, já que ela não sabe quem é o culpado, e elas logo ajudam. Elas dizem que é o escuro, ou o que parece com medo, ou o que está olhando para cima. Fora do campo, bruxas são atacadas, mas ali ela tem um pouco de poder. Banda, o administrador, sabe se esquivar de acusações. Quando alguém lhe pergunta porque a menina não está na escola, ele responde “esse é um mal uso de liberdade de expressão”.

A diretora, Rungano Nyoni, nasceu na Zâmbia, e voltou para lá com uma pesquisa justamente sobre as prisões para bruxas, que eram tidas como boato. Ela inclusive conseguiu dormir em um. Muito do que ela aprendeu entra no filme, que também tem invenções, como as fitas brancas que elas usam. Depois eu fiz um curso no mestrado de história em que discutimos a bruxaria na África, e reconheci vários aspectos que tinha visto no filme: o julgamento, como as bruxas são vistas como algo ruim, mas o feiticeiro pode até testemunhar na corte sem repercussão, a relação entre bruxaria, economia, poder e modernidade.

Eu consigo entender porque ela as criou, porque são contribuem muito para a fotografia do filme. A trilha sonora também é linda, e a direção realmente me conquistou. Foi um dos meus filmes preferidos no projeto até agora.

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